Fernando Pessoa

Não sei se é sonho, se realidade,

Se uma mistura de sonho e vida,

Aquela terra de suavidade

Que na ilha extrema do sul se olvida.

É a que ansiamos. Ali, ali

A vida é jovem e o amor sorri.

Talvez palmares inexistentes

Áleas longínquas sem poder ser

Sombra e sossego dêem aos crentes

De que essa terra se pode ter.

Felizes, nós? Ah talvez, talvez,

Naquela terra, daquela vez.

Mas já sonhada se desvirtua

Só de pensá-la cansou pensar

Sob os palmares, à luz da lua,

Sente-se o frio de haver luar.

Ah, nesta terra também também

O mal não cessa, não dura o bem.

Não é com ilhas do fim do mundo,

Nem com palmares de sonho ou não,

Que cura a alma seu mal profundo,

Que o bem nos entra no coração.

É em nós que é tudo. É ali, ali,

Que a vida é jovem e o amor sorri.

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