O meu irmão



Gosto do meu irmão.
Gosto dos nossos momentos.
Gosto da guerra de almofadas ou do jogo dos beijinhos em que as regras que invento nunca são contestadas (mesmo que a regra tenha sido inventada naquele momento e eu diga que "sempre foi assim").

Gosto que ele me oiça e gosto de o ouvir. Gosto sobretudo de quando ele tira as conclusões mais acertadas mesmo que ninguém lhas diga.
Gosto que ele goste de Deus.

Gosto do meu irmão porque posso contar com ele para tudo, porque posso partilhar com ele os meus medos, vitórias e angústias.
Gosto das conversas sérias que somos capazes de ter, apesar da nossa diferença de idades.
Gosto de o acordar aos fins-de-semana com o "está na hora de acordar DE VIVER O DIA!", porque ele é a única pessoa no mundo que continua bem-disposta ao ser acordado com tamanha desafinação.
Sei que ele não gosta que lhe toquem na orelha porque fica vermelha e que detesta bróculos.
Gosto que sejamos diferentes mas que achemos sempre coisas em comum.

É tão bom ter um irmão...
É ainda melhor ter um irmão assim.

Deus ama-te apaixonadamente, tal como és. (...)
O Senhor é um Deus apaixonado por ti.
Deus é amor e não pode, não sabe, não é capaz de fazer outra coisa
senão amar-te, gostar de ti, querer-te bem. (...)
O Senhor ama-te porque Ele é bom, porque é amor.
Não está à espera que tu sejas anjo ou santo para te amar.
Ele sabe que és barro, que és frágil e por isso te ama, te quer bem.
Não duvides deste amor e abre-te a Ele. (...)
Recorda o que o Senhor disse a Catarina de Sena:
«faz-te receptiva e Eu serei torrencial».
Aprende a ser receptivo, aprende a ter um coração pobre, despojado e humilde,
e o Senhor será, em ti, torrencial, encher-te-á, mais e sempre mais, do seu amor. (...)
Deixa Deus ser Deus, deixa Deus amar-te, abraçar-te, beijar-te,
acariciar-te como faz o Pai do pródigo.
Não fujas, não recues, não te afastes, não coloques obstáculos.
Deixa-te amar por Deus. (...)
Antes de pensares nos teus pecados, contempla o amor que Deus tem por ti,
antes de olhares as tuas misérias, descobre a ternura amorosa do teu Deus. (...)
Convence-te, cada dia sempre mais, que Ele não é capaz de deixar de te amar»


Dário Pedroso, s.j. 

Desabrochar


Creio que uma das coisas mais maravilhosas que Deus criou foi a "Diferença". A possibilidade de nada, mas mesmo nada se repetir. Mesmo quando dizemos "isso já aconteceu comigo" percebemos que haverá sempre um pormenor, por mais pequeno que seja, que torna a situação distinta.
No calendário a Primavera tem início marcado para 21 de Março, mas todos sabemos que não começa nesse dia. O que quero dizer é que as flores não começam a desabrochar obrigatoriamente a partir das 00h, o sol não irá brilhar todos os dias e o frio não nos abandona no último dia de Inverno. A Natureza não funciona com prazos tão lineares. Tem um ritmo e uma dança próprios. Um tempo antes começa a vestir-se de novo para dar nome àquilo que é.
Assim acontece connosco.
Também nós não desabrochamos todos no mesmo ritmo por muitas razões: a nossa raíz pode ser ou não mais regada ou os raios de sol podem ter ou não aquecido mais o nosso rosto.
A verdade é que há gente que já desabrochou mas que se volta a fechar em botão trocando as boas raízes e o bom lugar ao sol pela pequenez de voltar atrás. Pequenez não no sentido mediocre do termo, mas sim aquela pequenez que impede de se fazerem coisas maiores tendo capacidade para tal. Uma flor aberta, não pode comunicar com uma fechada, a não ser que ambas façam parte do mesmo caule. Se estivermos unidos pela mesma força havemos de nos entender. Bem, mas talvez isso não chegue...
A maturidade não começa em dia certo mas talvez devesse começar em tempo certo. Mas se não houver uma vontade de crescer estar-se-á sempre estagnado "naquilo que não somos mas podíamos ser". Por vezes precisamos de recomeçar, lavar a cara, encontrar o norte e definir para onde queremos ir. Só que até esse momento a "diferença" já tomou conta das nossas vidas e então, mesmo que se diga "isso já aconteceu comigo",  as circunstâncias e a nossa história já serão outras. Até lá, as flores que vão abrindo formam conjuntos harmoniosos e outras que tais terão já caído para dar lugar à nudez do ramo que as acolheu...
Talvez seja tempo de viver outra Primavera...