Há dias em que o nosso esforço move montanhas e há outros em que o nosso chão é muito pouco.
Têm sido longos esses primeiros dias...tão longos que se transformaram em meses. Os últimos nem tanto, mas hoje...
Hoje nem tudo correu mal. Mas parece que tudo está a andar para trás (apesar de eu saber que não está). Precisava de uma semana de férias (igual à única que tive este Verão) mas não a vou ter. Às vezes acho que estou há muito tempo a suster a respiração. Talvez seja a forma que arranjei de conseguir chegar a tantos lados (e tantos que ficam em falta).
Há dias que são passados a colar o que resta de nós, para que tudo o que existe de bom cá dentro, permaneça...

Lisboa, és só tu e eu

Até quando é que os lugares são nossos?
O que faz de um sítio 'o nosso lugar'?
O meu quarto está despido.
Os caixotes, empilhados, estão a abarrotar de memórias e de coisas mais ou menos importantes. Os maiores tesouros têm agarrada a palavra 'frágil'. As paredes, outrora cheias de vida, são agora de um branco nu e cru que também me empurra para outra morada.
O 'meu' quarto está...vazio.
E eu?
Eu vou tão cheia...tão cheia da minha metade aqui encontrada, tão cheia de outros horizontes, tão cheia de outros olhares. Sobretudo tão cheia de esperança na oportunidade de voltar em breve.
É que este sítio que, apesar de vazio, já é tão meu. Já é tão 'eu'.
Passou tão rápido.
Por cima da minha cama (será que é minha, ainda?) pode ler-se: a Rita dorme aqui; E amanhã, depois de arrancar estas letras, estará para sempre escrito nestas paredes 'a Rita teve uma história aqui' — com tudo de bom e mau que uma história traz. Mas uma história que tem um sabor a vida e a fases.


"E passo por ti
Condenado a sentir um vazio
Na hora de te abandonar
A lembrança de quem quer ficar
A cidade por descobrir
Um adeus, vou partir
(...)
Agarro-me a ti
Confrontado a saudade que sinto
A hora está-se a aproximar
As memórias de quem quer voltar
Um segredo que vou descobrir
O adeus, vou partir
Lisboa, és só tu e eu
Lisboa, és só tu e eu
E passo por ti
Condenado ao vazio
A ansia de querer voltar
O adeus que não te vou dizer
Espero aqui
Com o mar controlado
A história de ter um passado
A idade de te conhecer
A cidade por descobrir
O adeus, vou partir
Lisboa, és só tu e eu
Lisboa, és só tu e eu"


Até já,
da Rita que já se apaixonou por ti!
Senhor, nós estamos a fazer o possível. Faz Tu o impossível, se assim o quiseres, por favor!

Tu, meu Deus

Tu meu Deus a Quem busco, sede de Ti tenho na alma, 
Qual terra serra, qual terra seca, sem água.

Porque o Teu amor
é melhor que a vida
meus lábios querem cantar para Ti
e assim quero com a vida bem dizer-Te
e levantar as mãos abertas para Ti.

Quantas vezes de noite
quando o sono se vai penso em Ti.
e tranquilo me encontro à Tua sombra
como uma criança minha alma se aperta contra Ti
e segura a Tua mão me sustém.
Uma só coisa Te peço, Senhor,
uma coisa estou buscando:
viver em Tua casa para sempre e conhecer-Te.
Tu, Senhor, sabes o que sou.
Tu, Senhor, sabes o que tenho, o que eu anseio,
o que não sou, o que não tenho.



O meu irmão



Gosto do meu irmão.
Gosto dos nossos momentos.
Gosto da guerra de almofadas ou do jogo dos beijinhos em que as regras que invento nunca são contestadas (mesmo que a regra tenha sido inventada naquele momento e eu diga que "sempre foi assim").

Gosto que ele me oiça e gosto de o ouvir. Gosto sobretudo de quando ele tira as conclusões mais acertadas mesmo que ninguém lhas diga.
Gosto que ele goste de Deus.

Gosto do meu irmão porque posso contar com ele para tudo, porque posso partilhar com ele os meus medos, vitórias e angústias.
Gosto das conversas sérias que somos capazes de ter, apesar da nossa diferença de idades.
Gosto de o acordar aos fins-de-semana com o "está na hora de acordar DE VIVER O DIA!", porque ele é a única pessoa no mundo que continua bem-disposta ao ser acordado com tamanha desafinação.
Sei que ele não gosta que lhe toquem na orelha porque fica vermelha e que detesta bróculos.
Gosto que sejamos diferentes mas que achemos sempre coisas em comum.

É tão bom ter um irmão...
É ainda melhor ter um irmão assim.

Deus ama-te apaixonadamente, tal como és. (...)
O Senhor é um Deus apaixonado por ti.
Deus é amor e não pode, não sabe, não é capaz de fazer outra coisa
senão amar-te, gostar de ti, querer-te bem. (...)
O Senhor ama-te porque Ele é bom, porque é amor.
Não está à espera que tu sejas anjo ou santo para te amar.
Ele sabe que és barro, que és frágil e por isso te ama, te quer bem.
Não duvides deste amor e abre-te a Ele. (...)
Recorda o que o Senhor disse a Catarina de Sena:
«faz-te receptiva e Eu serei torrencial».
Aprende a ser receptivo, aprende a ter um coração pobre, despojado e humilde,
e o Senhor será, em ti, torrencial, encher-te-á, mais e sempre mais, do seu amor. (...)
Deixa Deus ser Deus, deixa Deus amar-te, abraçar-te, beijar-te,
acariciar-te como faz o Pai do pródigo.
Não fujas, não recues, não te afastes, não coloques obstáculos.
Deixa-te amar por Deus. (...)
Antes de pensares nos teus pecados, contempla o amor que Deus tem por ti,
antes de olhares as tuas misérias, descobre a ternura amorosa do teu Deus. (...)
Convence-te, cada dia sempre mais, que Ele não é capaz de deixar de te amar»


Dário Pedroso, s.j. 

Desabrochar


Creio que uma das coisas mais maravilhosas que Deus criou foi a "Diferença". A possibilidade de nada, mas mesmo nada se repetir. Mesmo quando dizemos "isso já aconteceu comigo" percebemos que haverá sempre um pormenor, por mais pequeno que seja, que torna a situação distinta.
No calendário a Primavera tem início marcado para 21 de Março, mas todos sabemos que não começa nesse dia. O que quero dizer é que as flores não começam a desabrochar obrigatoriamente a partir das 00h, o sol não irá brilhar todos os dias e o frio não nos abandona no último dia de Inverno. A Natureza não funciona com prazos tão lineares. Tem um ritmo e uma dança próprios. Um tempo antes começa a vestir-se de novo para dar nome àquilo que é.
Assim acontece connosco.
Também nós não desabrochamos todos no mesmo ritmo por muitas razões: a nossa raíz pode ser ou não mais regada ou os raios de sol podem ter ou não aquecido mais o nosso rosto.
A verdade é que há gente que já desabrochou mas que se volta a fechar em botão trocando as boas raízes e o bom lugar ao sol pela pequenez de voltar atrás. Pequenez não no sentido mediocre do termo, mas sim aquela pequenez que impede de se fazerem coisas maiores tendo capacidade para tal. Uma flor aberta, não pode comunicar com uma fechada, a não ser que ambas façam parte do mesmo caule. Se estivermos unidos pela mesma força havemos de nos entender. Bem, mas talvez isso não chegue...
A maturidade não começa em dia certo mas talvez devesse começar em tempo certo. Mas se não houver uma vontade de crescer estar-se-á sempre estagnado "naquilo que não somos mas podíamos ser". Por vezes precisamos de recomeçar, lavar a cara, encontrar o norte e definir para onde queremos ir. Só que até esse momento a "diferença" já tomou conta das nossas vidas e então, mesmo que se diga "isso já aconteceu comigo",  as circunstâncias e a nossa história já serão outras. Até lá, as flores que vão abrindo formam conjuntos harmoniosos e outras que tais terão já caído para dar lugar à nudez do ramo que as acolheu...
Talvez seja tempo de viver outra Primavera...

Deserto



Nunca tive a pretensão de que me iria conhecer a 100%. Mas nunca pensei andar para trás no que toca ao olhar para dentro.
Saber que não me conheço na totalidade é bem melhor do que estar no limbo entre o que fui e o que sou (agora, neste dia).
Cresci? Estou mais fria? Menos emotiva?
O que fiz à sensibilidade que me movia e ao amor com que olhava os outros?
Estou com um olhar vazio, não estou?
Ainda sei pôr amor no que faço, sabendo eu que sou de Deus, mas que não me sinto em Deus?
Não. Não gosto de paragens (não destas), em que tudo me é meio estranho.
Sinto que a função e o "por que me bato" mudou. Estou mais exigente comigo e com os outros.
Será por isso que sinto tanto, mas pouco me dói? Ou dói de mais e parece que não sinto?

Não quero falar...
Estou cansada.

Só quero com todas as forças sentir Deus outra vez ao meu lado. O deserto é a pior das experiências.

Reencontros


Há um enorme fosso quando quero, do fundo do coração, arranjar palavras para definir o que sinto nos reencontros.
Daqueles em que a mesa está posta à nossa espera. Em que o sorriso, a confusão e o barulho são casa.
Nos últimos anos, as oportunidades do simples estar com amigos têm sido raras. As desculpas são as que viraram habituais: tempo e desencontro; Faz-me tão bem estar em ambientes de partilha e de memórias.
Não nos encontramos só para recordar, mas também para construir futuro. Agora, com o tempo um bocadinho mais controlado, com mais preocupação, mais maturidade...
Eu gosto dos amigos que Deus me deu. Gosto muito. Grande parte das minhas grandes e verdadeiras amizades foram construidas em Deus (e só quem sabe, entende).

E assim, com o coração cheio de uma noite bonita, vou dormir.

Tempo




"Ainda não chegou o tempo de se realizar esta visão, mas não deixará de se cumprir.
Espera com confiança, mesmo que pareça demorar, pois chegará o seu momento próprio"
Hab 2, 3-4

Senhor, cuida do meu coração.
Ajuda-me a aceitar com paz a Tua escolha. A Tua espera.
Que eu saiba dançar no Teu compasso.

Grandes mudanças





Às vezes esqueço-me de que estamos sempre a mudar.

Não são mudanças repentinas...vão acontecendo. E, de repente, há um dia em que nos apercebemos de que estamos diferentes.
Talvez nos olhemos ao espelho e nos sintamos mais velhos.
Hoje estou com um ar cansado. Na verdade é um ar exausto. Um ar de quem guardou, quando talvez não devesse ter guardado. Um ar de quem espera o bem, mas não o vê.
As "grandes mudanças acontecem de dentro para fora" — então que seja para nos tornarmos uma linda borboleta que se metamorfoseou até ganhar asas.

As pessoas de Deus...


As "pessoas de Deus" é uma expressão que uso regularmente. Refiro-me a pessoas tão bonitas e cheias de luz por dentro, que transbordam amor. Mas estou errada. Somos todos pessoas de Deus.
Na verdade, o que eu queria dizer (e continuo a enganar-me) é "pessoas em Deus". Há muito poucas coisas como "conversas em Deus" — daquelas que nos esclarecem por dentro e nos abanam até encontrarmos de novo o caminho certo.
Há quem escolha estar por dentro, há quem goste de estar por fora e há ainda o meio termo.
Ando numa fase de introspecção. Em arrumações. Talvez esteja a crescer mais um bocadinho — e é muito bom sentir-me avançar.
É maravilhoso ter gente que puxe por mim com perguntas difíceis sobre tudo e sobre Deus.
Hoje relembrei que qualquer coisa que nos faça crescer tem um compromisso, caso contrário ficamos apenas à tona da água.
As tuas amizades têm compromisso. O teu namoro tem (e é) um compromisso. E a nossa relação com Deus também o é.
E é por esse compromisso que, mesmo no meio dos desertos da minha vida, continuo a buscar A fonte da Alegria.
É que ter Fé, não pode ser só quando dá jeito. Como é que amamos uma pessoa sem a conhecermos? Não se pode ter Fé se não a praticarmos, assumindo o compromisso de estar presentes na vida de Jesus, deixando também, que Ele esteja na nossa. Porque é que não buscar hoje, agora, ter Jesus dentro do peito, a fazer mais do que coisas por nós, mas coisas connosco?

Porque é que é tão difícil?

E depois torna-se tudo tão mais claro quando nos cruzamos com uma "pessoa em Deus"...

Hoje não me recomendo

Por vezes é só falta de confiança. De auto-estima. É o medo da comparação. É o nó na garganta.
Por vezes, um abraço e um "eu estou aqui" é suficiente.

"Não queiras saber de mim, esta noite não estou cá,
Quando a tristeza bate pior do que eu não há.
Fico fora de combate como se chegasse ao fim,
Fico abaixo do tapete, afogado num serrim.

Não queiras saber de mim, porque eu estou que não me entendo
Dança tu que eu fico assim
Hoje não me recomendo..."