Vinha no comboio, a ler o livro que (re)comecei anteontem.
Já o tinha na prateleira há anos, mas nunca lhe achei grande piada, até que resolvi voltar a tentar. E ainda bem! Estamos a dar-nos bem por agora.
Resolvi partilhar este excerto que achei especialmente bonito! :)
“-Fynn, tu podes amar mais do que qualquer outra pessoa no mundo, e eu também, não achas? Mas o Senhor Deus é diferente. Repara, Fynn, as pessoas só podem amar por fora, só podem beijar por fora, mas o Senhor Deus pode amar por dentro, pode beijar por dentro, portanto é diferente. O Senhor Deus n’é como nós; nós somos um bocadinho como o Senhor Deus, mas não é ainda muito(…)
- Fynn, por que é que as pessoas andam à luta, fazem guerras e essas coisas? – Expliquei-lhe o melhor que pude. – Fynn, como é que se diz quando vemos as coisas de maneira diferente? Durante um ou dois minutos tentei descobrir que expressão é que ela procurava e descobri «ponto de vista». – É essa a diferença, Fynn. Toda a gente tem um ponto de vista mas o Senhor Deus não tem. O Senhor Deus tem unicamente pontos para ver.
Neste momento só tinha uma vontade, desistir da conversa e ir dar um bom passeio a pé. Que espécie de criança era esta? Que fizera até agora? Em primeiro lugar Deus podia pôr termo às coisas e eu não. Eu podia concordar, mas o que é que isto queria dizer? Parecia-me que ela realmente tinha chegado ao conhecimento de Deus, fora dos limites do tempo e que o conseguira colocar firmemente na eternidade (…)
- ‘Tás a ver? – dizia -, ‘tás a ver? O Senhor Deus ainda tem outra diferença! – Ainda não tínhamos acabado , está visto. – O Senhor Deus pode conhecer as pessoas e as coisas por dentro. E nós só as conhecemos por fora n’é? E tu vê, Fynn, nós não podemos falar do Senhor Deus de fora; só podemos falar do Senhor Deus de dentro dele. – Mais um quarto de hora se passou para ela apurar estas teorias. No fim, rematou: - Isto é tão engraçado não é? – deu-me um beijo e aninhou-se por baixo do meu braço para dormir.”
in Senhor Deus, esta é a Ana.