Exercícios Espirituais



Finalmente me sinto capaz de partilhar uma das experiências mais fantásticas que vivi até hoje. Uma experiência de silêncio, abandono e profundo encontro.

Foi há cerca de quinze dias.
Acho bastante humano o medo do desconhecido, mas acho igualmente humana, a capacidade de nos lançarmos para novos desafios mesmo sem saber muito bem o que serão eles. Estou a falar de Exercícios Espirituais. Três dias de silêncio (logo eu que gosto tanto de falar).

Os Exercícios Espirituais de Santo Inácio, são uma viagem. No meu caso, foi uma viagem de três dias, uma escuta e um objectivo. Não é o silêncio pelo silêncio, nem o silêncio descabido de estar simplesmente calada porque não posso falar. É estar em silêncio para escutar. Escutar o quê? No meio dos dias, da confusão e dos mil afazeres, é muito difícil parar e perceber o que é que Deus quer de nós - o estar atenta para conseguir uma maior liberdade afectiva - que não é um desprendimento, mas um encontrar-me no meio do que sinto; É arrumar as ideias na estante.

Descobri que as maiores viagens que podemos fazer, são ao nosso interior e que não vamos de maneira nenhuma sozinhos. Ajudam-nos a descobrir um bocadinho mais do que somos. Percebi que a linguagem muitas vezes é uma fonte de mal-entendidos. As palavras podem ferir, assim como as expressões utilizadas. Há coisas maravilhosas que se constroem no silêncio - como a cumplicidade, o discernimento e o entendimento.

Deus está em todas estas descobertas. Não existe para me resolver os problemas, mas estará sempre para me ajudar a resolvê-los. Faz-se à estrada comigo quando experimento a desilusão, a frustração e o desencanto. Eu, como Ser Humano, sou a minha história e bocadinhos das histórias dos que me rodeiam. Para isso, preciso de ter quem amo dentro de mim. Só há amor quando os outros estão dentro do nosso coração e Jesus, vem mostrar-nos que estamos todos dentro do coração Dele. A Fé como relação, também precisa de afectos, de detalhes e pequenas surpresas. É uma história que se vai construindo como qualquer outra - feita de altos e baixos e desalentos.

No fim de tudo isto, percebi que só há mesmo uma Pessoa que me conhece no mais profundo do que sou, essa Pessoa é Deus. Qualquer relação humana, por mais bem construida e segura que seja, me vai desiludir de alguma forma e isso é completamente natural.

Os Exercícios Espirituais, não se tratam de uma abstracção da realidade - isso não seria de Deus, porque Ele está no concreto, no prático, na acção; São dias de parar e dar lugar a Alguém que nos coloca sempre em primeiro. Alguém que nos tem ternura e carinho, em que a oração e o silêncio, estão acentes em pistas de oração diárias.

Há duas linguagens. A das pessoas que conseguem ver para além do óbvio (onde Deus está presente) e a daqueles que não percebem nada (por não ser tempo, porque não se deixam tocar ou porque têm uma ideia errada de Deus).

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