Nem eu tinha vontade de ler isto...

É o último dia do ano...e eu ainda tenho montes de coisas para fazer antes de sair de casa, mas achei importante parar, render-me à minha incontornável preguiça, e como ser langão que sou, fingir que estou a pensar neste ano que passou...às tantas deparei-me: Bem, já que o teu objectivo é pensares no ano que passou, e de facto não estás a fazer nada, porque não pensares mesmo? (Acho incrível esta vozinha cá dentro que mostra muita mais mauturidade que a que eu própria tenho).

Quando olho para este blog penso que sou das pessoas mais dramáticas e nostálgicas que algum dia vou conhecer, que foi um ano mesmo difícil, talvez o mais difícil até hoje. Não há cá culpas nem desculpas, mas se realmente queremos crescer a sério não podemos ter a vida cor-de-rosa com que sonhamos. Isto é, seria óptimo termos essa vida, no entanto ela não teria vontade nenhuma.

Nunca parei tantas vezes para pensar. Provávelmente nunca tinha tido esta necessidade, é algo que custa mas que vale a pena. "Só estás me paz com os outros quando estás em paz contigo" alguém me disse...e sim, é verdade. Descobri que ando numa paz inquieta, mas ao menos tenho paz. E paz inquieta porquê? Porque enquanto não nos conhecermos vamos andar em busca, e o andar em busca não é mau...antes pelo contrário. Então aprendi que há muita coisa em mim em que eu posso trabalhar para poder ser mais para os outros, e são coisas simples do dia-a-dia, pequenas mas que custam porque já estão muito cravadas em mim.

Eu tenho muita vontade de fazer mais, de saber mais e agradeço a Deus as pessoas espectaculares que me pôs no caminho este ano, e também aquelas que me tirou porque não me deixavam avançar. Cheguei a uma fase em que quero ficar realmente com o melhor de cada um, porque o pior já tenho o meu e não é fácil de lidar :)

Afinal porque dizes que foi um ano mau? Porque choraste? Oh rapariga, choras todos os anos (choras com qualquer coisa). Porque andaste triste? Então, e o andar triste não faz parte da vida? Porque achas-te que não tinhas força? Mas tiveste, e tiveste mais do que aquela que achavas que tinhas :)

Só posso dizer que vou continuar a tentar ser eu em cada pequena coisa...
Aqui fica um poema que gosto muito :)

O segredo é amar. Amar a Vida
com tudo o que há de bom e mau em nós.
Amar a hora breve e apetecida,
ouvir os sons em cada voz
e ver todos os céus em cada olhar.

Amar por mil razões e sem razão.
Amar, só por amar,
com os nervos, o sangue, o coração.
viver em cada instante a eternidade
e ver, na própria sombra, claridade.


O segredo é amar, mas amar com prazer,
sem limites, fronteiras, horizonte.
Beber em cada fonte,
florir em cada flor,
nascer em cada ninho,
sorver a terra inteira como o vinho.

Amar o ramo em flor que há-de nascer,
de cada obscura tímida raiz.
Amar em cada pedra, em cada ser,
S. Francisco de Assis.

Amar o tronco, a folha verde,
amar cada alegria, cada mágoa,
pois um beijo de amor jamais se perde
e cedo refloresce em pão, em água!

Fernanda de Castro

Até para o ano :)

Rita

Dna. Glória :)

Hoje ía eu na minha vida meio perdida a ouvir as músicas deprimentes de sempre, quando ao fundo vejo a dona Glória. A dona Glória é uma senhora que foi connosco a Taizé no 1º ano e que fala pelos cotovelos. Quando chegámos a Paris a primeira coisa que fez foi pôr-se em cima de um banco, abrir os braços e gritar: ESTOU NA FRANÇA, ESTOU NA TORRE EIFFEL (Oléee!).
Então eu, como estava sem paciência pensei: Ui! Vem lá a dona Glória, podes passar por ela a olhar em frente e assim não perdes um tempão a falar (quer dizer) a ouvi-la; Sim, foi o lado mau da Rita que pensou isto...mas...naqueles instantes em já estava tão perto resolvi mudar de ideias. Tirei os phones dos ouvidos, e disse "Olá dona Glória!", e ela quando me viu, parou e deu-me um abraço daqueles mesmo quentinhos e...pôs-se a falar... contou que tinha um primo no hospital que tinha tido um aneurisma e que vinha de lá muito triste. "Agora quando o meu marido se queixar a dizer que tem dores nos joelhos eu vou-lhe dizer: Cala-te homem! Nós não temos problemas nenhuns comparados com os de muita gente!", então eu respondi aquelas coisas que toda a gente responde: Sim, é verdade, os nossos problemas comparados aos de muita gente não são nada;....de repente uma vozinha GRITOU cá dentro: ISTO É PARA TI MENINA RITA! ESTÁS A OUVIR? Para que é que andas tão em baixo com coisas estúpidas? Triste era não teres uma mão para poder desenhar, ou olhos para ver! PARVA!; e pior..."Tu ías passar por ela sem lhe falares! Se passasses por ela sem lhe falares não tinhas tido um abraço destes!"...
E mais uma vez, esta situação tão normal, me fez pensar que perdemos tantas vezes oportunidades por tantos motivos: falta de paciência ou preguiça... Fechamos a porta, sem querer saber o que está por trás...
Mais uma coisa para a lista de "mudanças que tenho que fazer em mim".

(Des)encontros

Hoje imaginei-me naquela varanda da casa da Tocha. A varanda com o chão de madeira que dava directamente para a horta e para os canteiros que ao longo dos anos fui tentado construir. Pus-me a pensar que se me sentasse ali por umas horas, aquele chão me podia contar dezenas e dezenas de histórias que vivi, umas que me lembro muito bem, outras que seriam novidade (mesmo tendo-as vivido).

Então, lembrei-me da avó...e das tardes que passei ali com ela. A avó descascava o feijão e eu sentava-me no chão a pintar qualquer coisa. Muitas vezes a mãe sentava-se ao lado a ler (a mãe gosta muito de ler) e o avô (com aquele chapéu branco) chegava e contava o que tinha andado a descobrir. E assim passei os melhores anos da minha vida... Naquela varanda, naquele sitio. À medida que fui crescendo deixei de gostar de ir para lá: "Não quero ir! Vou perder o fim-de-semana!"; Mas...agora que olho, penso que tudo fez parte. São bocadinhos da minha história que me fizeram e vão continuar a fazer a pessoa que me torn(ar)ei.

Enquanto pensava nisto tudo, sentia o coração quente por ser tão feliz, com o que tive e tenho, e olhava para as pessoas à minha volta e reparava: Toda esta gente tem uma história, que nalgum momento da vida passou a fazer um bocadinho parte da minha. Não sei porquê! Com muitas delas talvez nunca venha a falar, mas é engraçado perceber o que nos leva para um lugar onde vamos ao encontro de outras histórias (por vezes tão diferentes). Há momentos em que as histórias são como aqueles carris que têm duas direcções (os tais encontros e desencontros), e hoje faz um ano em que a minha carruagem cheia de tanta coisa foi para um lado, e a carruagem de outra pessoa foi para outro completamente distinto. Não foi fácil, mas ao fim deste tempo posso dizer que o caminho melhor não é sempre o mais fácil ou o mais confortável. Aprendi que este caminho que fiz foi muito importante, e guardo comigo as dezenas histórias de tanto tempo de partilha. Quero agradecer a Deus por ter conhecido outra história que em tempos completou a minha, mas que agora faz parte de um passado às vezes bonito, outras pouco risonho. Quero agradecer todas as histórias que têm vindo a enriquecer a minha (isto é em especial para ti Guida :] ).

Se me sentasse no chão daquela varanda, podia contar-lhe muitas histórias que ela ainda não sabe, mas que me ajudariam a completar o livro por escrever que mora no meu coração.

Rita

Diálogos

Hoje...fiquei a perceber que realmente temos sempre tempo para o que vale a pena, ou mesmo para o que não vale a pena mas que nós até achamos que vale...
É importante ir contra a corrente e deixarmos de fazer (nem que seja por um dia) aquilo que todos esperam de nós e aí entram as pequenas "loucuras"...(gritar alto no meio do DV, ou atirarmo-nos ao rio).
Nem sempre perdemos tempo quando estamos convencidos disso, estamos simplesmente a ganhá-lo em ouvir os outros (hoje ganhei muito!). Não há coicidencias, há Deus...
Não faz mal se ainda não sei bem o que ver no futuro, sei que estou a caminhar para algum lado, e sinto que está certo o lado para o qual eu caminho. As quase certezas vêm aos poucos... É bom quando descobrimos que estamos preparados para subir no elevador para o andar acima.
Só tu sentes e só tu podes agir de acordo com o que sentes...


Isto não faz sentido?
Faz...faz todo o sentido.
Mas tem mesmo que fazer?
É confuso?
É...mas ao mesmo tempo tão perceptível!

Obrigada Mário

Outra margem de mim

"É muito tempo a desejar o tempo
De mudar ventos, levantar marés
É muita vida a desejar o alento
Que faz saber ao certo quem és

É funda a toca onde te escondes tanto
Tem a distância entre o silêncio e a voz
A vida rasga bocadinhos gastos do mundo
Vai descascando até chegar a nós

São muitos dias a perder em vão
Sem nunca entrar dentro do labirinto
É muita vida a não ser o que tu sentes
A planar sobre o que eu sinto"

Mafalda Veiga

Saudades e confusões

Como é que sentimos? Afinal onde se guarda o que sentimos?
Andamos sempre numa roda viva, cheios de trabalhos, cheios de apelos, cheios de dias...
Já não temos tempo para uma cafézada com conversas daquelas que guardamos num dos brilhos do olhar.
Começamos o dia a correr, adormecemos a correr para acordarmos a correr...Ficamos sem paciência, falamos torto para as pessoas que mais gostamos...pedimos desculpa, e passa.
Casa...quase nem a vejo...tenho saudades de casa. Tenho saudades da manta nas pernas e das vezes em que ponho os pés por baixo das pernas do mano para os aquecer, enquanto vemos um filme qualquer.
É dificil viver...viver para mim. Sim, mais de metade das coisas que faço nos meus dias são para mim directa ou indirectamente, mas não soam a coisas que me fazem crescer, soam a algo mecânico, soam a rotina. Sinto falta de um espaço para parar, sinto falta de partilhar, de dar o que sou. Só dando o que somos podemos receber o que os outros são.
Sinto falta de poder partir, e realizar.
Sinto falta de voar...de me fazer à estrada...

Cântico Negro

"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!
"Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
(...)
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
(...)
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!"

José Régio

A todos os meus Amigos

"Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos. Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.

A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor. Eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade.E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências ...

A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar.

(...) Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure. E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários. De como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, trêmulamente construí, e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida. Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos eles morrerem, eu desabo! Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles. E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo. Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles.

Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer ...Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos! A gente não faz amigos, reconhece-os. "

Vinícius de Moraes

Foi um texto que encontrei para vos explicar algumas "falhas" em manter as minhas amizades (a ti Mariana, e a ti Perdigão). Vocês caminham comigo, cá dentro, todos os dias... Obrigada!
Obrigada a todos os que já se tornaram presentes físicamente, e estão sempre prontos a dar-me a mão e o abraço.