"Vede como eles se amam"

"Não sabia como começar a escrever. Resolvi pedir ajuda ao Gabriel.
- Gostas de viajar? - perguntei.
Os olhos brilharam; sorriu e acenou com a cabeça, dizendo que sim.
Tem três anos, mas vê-se logo que sabe o que quer.
- Porquê? O que é viajar?;
Fitou-me só, sem responder. Fiquei na dúvida se teria percebido a pergunta e repeti mais devagar:
- Sabes o que é viajar?
Então surpreendeu-me, encolhendo os ombros e desviando a atenção para o que estava a fazer antes de começar a conservar. Ele percebia a pergunta, mas não sabia responder.
"Caminho". "Comunidade". "Encontro". São palavras destas que me fazem que me fazem compreender o Gabriel. Quem já experimentou, fala de contrariar a rotina e da oportunidade de ser verdadeiramente "eu" (na certeza que o "eu" de cada um é único, irrepetível e fascinante). Contam que a alegria é tão profunda que fica connosco mesmo quando se regressa a casa. Mas, apesar do relato entusiasta de tudo o que se vive e sente, quase ninguém consegue explicar ao certo o seu "conceito". Os olhos brilham e sabemos que é bom. Mas tenos alguma dificuldade em perceber o que se passa.
Hoje, o desafio é grande. Propomo-nos a partir para longe: muitos quilómetros, muitas horas de viagem. No destino, a certeza de uma novidade intensa - de espaços, pessoas e sons. Tudo isto nos enche de imediato. Mas, no fim de contas, a provocação vai muito mais além: deixar de procurar o significado literal e ir em busca do sentido último. E esse sentido está em Deus (a palavra mais inexplicável de todas). Esse último sentido, resume-se num vocábulo só: o "Amor".
Que o bom Pai nos ajude, a cada um, a deixar que a viagem que agora começamos não seja só exterior. Que se espraie para bem fora do desenho da estrada e nos inunde; nos transforme. Por certo que, quando percorrermos o caminho de volta, o sentiremos diferente - porque nós seremos pessoas diferentes.
Desejo que, em breve, se alguém nos perguntar sobre esta peregrinação, os nossos olhos brilhem sem que saibamos falar do Amor que experimentámos. E que, como o Gabriel, nos sintamos pequenos."

Como estas palavras são suficientes para explicar o inexplicável, fica o brilho nos olhos.



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