As coisas boas e bonitas, constroem-se devagar, com verdade e com tempo.
São feitas de partilhas, segredos e cumplicidade.
As coisas bonitas constroem-se na confiança e nas pequenas entregas.
As boas...essas, são feitas de sonhos.

Memórias



A Memória é talvez a única coisa que nos pertence.
Só pode ser roubada pelo Tempo que nos leva ao esquecimento.
Lembro-me do quente da mão da Avó nas minhas costas, dos jogos com o Avô e da sua infindável paciência, do beijo de "boa noite" do Pai e da forma inigualável de me tapar com os lençóis, da Mãe a embalar o mano e da primeira vez que o vi - era tal e qual como o sonhei - lindo!
Lembro-me de ser tão pequena que achava a Mãe enorme. Devia dar-lhe abaixo do joelho e ela usava aquela saia roxa de Inverno.
Lembro-me dos piqueniques em família, de me pendurar nos Pinheiros, de rebolar na areia, de sentir o quente do casaco do Pai sobre os ombros quando eu tinha frio. Consigo sentir as minhas mãos unidas às da Mãe, no mar, enquanto saltávamos nas ondas e, tudo isto, continua a ser eterno, apesar de hoje já não o viver.
Lembro-me do primeiro dia de infantário e da despedida Mãe. "Onde foi a minha Mãe?" perguntei eu. Os meus colegas estavam a pintar, talvez eu gostasse de experimentar também. Olhei para todas as cores e escolhi a amarela. Pintei um sol, que ainda hoje guardo. Creio que foi aí que descobri tudo o que podia ser. Talvez tenha começado antes, mas a minha memória diz-me que a minha história começou aí.
A minha história é feita destas Memórias e de Passado.
Gosto muito de viver.
Não tenho medo de morrer, mas também não tenho pressa. Sei simplesmente que vai acontecer e que a cada dia me aproximo mais do recomeço. Tenho medo sim, das pessoas que poderão morrer primeiro que eu, isto porque as amo e, sem elas, a Vida parece-me vazia.
Há muitas pessoas que já não estão na minha vida, mas que eu guardo na Memória - na parte onde cabem as Saudades e a Nostalgia.
Eu faço as coisas com o coração. Ensinaram-me a ser honesta e verdadeira com todos, mas sobretudo comigo. Magoo-me facilmente, porque muitas vezes não me sei desiludir. Custa-me o confronto, assim como a humilhação. Custa-me não entender as atitudes e os "porquês". Não percebo a vingança nem a sede de poder. Não faço tensões de mudar o mundo, porque nunca vou conseguir e desde cedo percebi. Quero simplesmente chegar ao fim e dizer: mudei a vida das pessoas que tive à minha volta! Consegui passar-lhe algo bom!; Não quero ter balúrdios, nem barcos, nem mansões. Quero casar e ser capaz de educar bem os meus filhos. Formar pessoas honestas e boas. O mundo precisa de pessoas boas! Não quero ser feliz. Não! Eu já sou feliz. A felicidade não está no futuro nem aparece. A felicidade está agora e constrói-se. Está no apostar em alguém, em decidir arriscar, ter fé e acertar. Ter fé não é mais do que dizer "eu confio em ti!".
Penso que tudo isto não faz de mim fraca, parva ou alguém sem ambição. Estou unicamente à procura do meu caminho, sem pressas, sem angústias, com o ritmo do coração a bater ao ritmo do de Deus. Tudo se resume ao querer acertar o passo no ritmo certo.
É isto que me vai na alma...
São as memórias e os risos que guardo cá dentro.

Peço-te, Tempo...não me leves nunca as Memórias.

Do meu Terraço...




Ontem, antes de adormecer resolvi ir até à pequena varanda.

Na verdade, é um terraço sobre um saguão. Não tem nenhuma vista em especial, mas há qualquer coisa nele - talvez o facto de não ter tecto...e de o sentir tão meu (e quando as coisas "são nossas" ganhamos-lhes uma estima e um carinho diferentes).
Tenho pena que as máquinas fotográficas não consigam ainda registar na perfeição o que o nosso olho vê. Estava um lindo céu estrelado e a luz da Lua incidia de tal maneira no meu terraço, que parecia uma lâmpada fluorescente. Há momentos em que só precisamos de inspirar e expirar, devagar, sem pressa.
Hoje voltei lá pela manhã e olhei o mesmo céu. Como é que num curto espaço de tempo a paisagem muda tanto? De negro estrelado passa a azul claro. O espaço é o mesmo, eu encosto a cabeça no mesmo lugar e...
Há qualquer coisa de especial na vida...
Talvez o tomar consciência da pequenez que somos. Perceber que tudo gira numa calorosa harmonia à nossa volta. E tudo isto mete Amor...
O Amor está sempre metido ao barulho. É por Amor que existe este equilíbrio, porque o próprio Amor o criou para nós. E é isso que me faz sentir pequena, mas preenchida. É isso que vai tapando ao logo do tempo as lacunas de afecto que todos temos.
De repente, este espaço tornou-se o palco das grandes conversas cá de casa - daquelas profundas e com sentido que nos despenteiam por dentro.

Do meu terraço vejo o rio, os carros, o movimento...mas, sobretudo, vejo o Céu.


Os dias

Os dias têm sido um misto do querer ser e poder ser, vividos no meio da entrega de cada momento. Das surpresas, dos sorrisos e do gostar mais.
É bom estar aqui. Sinto-me bem. É bom saber de mim e saber dos que me são queridos.
"Podes ter asas e raízes".
Vou aprendendo que o que somos, tem que transparecer. Por vezes, as maiores barreiras são erguidas por nós. Descobri que não podemos viver sem a nossa maior paixão durante muito tempo. Acabamos por bloquear em tudo o resto. Gosto muito do que faço e dá-me muito gozo estar realizada nos meus projectos. Olho para trás e vejo que tudo tinha mesmo que ser assim. As incertezas vão-se desvanecendo.
Hoje falava com a C. sobre a liberdade e, sem querer e sem pensar, saiu-me um: quanto mais sou de Deus, mais livre sou, mais livres são as minhas relações; no fundo tudo se resume a querer fazer as coisas bem, com honestidade e verdade - verdade para os outros, mas sobretudo para mim mesma.
Por aqui tenho um telhado acolhedor de onde vejo o rio e o pôr do sol. Sou tão feliz por isso! "Não é preciso correr não é urgente chegar, o que é preciso é viver".

E assim, passam os dias com a confiança que a cada passo tenho Alguém comigo.

Deus.

Deus.
Aquele que me chega de tantas formas, tantos dias, tantas vezes.
Deus.
Aquele que me inspira, que me faz mover, que me sente por dentro, tal como sou.
Deus.
Aquela Luz. Aquela presença. Aquele Sim.
Aquele que me faz ver que sou pequena, bem pequena. Aquele Pai que me pede: confia em Mim, embalar-te-ei quando não souberes o teu rumo. Tenho coisas maiores preparadas para ti;
A minha inspiração vem Dele. Tenho andado longe...pouco sensível. Não tive um Advento, não senti um Natal. O meu nascimento não se deu. Tenho confiado pouco...

Senhor, tenho aprendido que para ti contam as "coisas pequenas, feitas com Amor". É isso que quero para a minha vida. Fazer coisas pequenas mas com amor. Estar inteira nelas. Quero subir devagarinho, na Tua Graça, na Tua Verdade e Honestidade.
Ando a tentar perceber o projecto de vida que sonhaste para mim. Vai-se tornando claro e é bonito. Acho que se encaixa naquilo que também sonho.


Deus.
....