A nossa zona de conforto é de facto muito ténue.
Talvez a zona de conforto seja mesmo o lugar das memórias...que são seguras porque foram vividas e temos a certeza delas.
Qualquer mudança implica a coragem de dar um passo em frente. Vivemos tanto tempo no limbo do "sim" ou do "não".
Hoje voltei ao meu lugar seguro, à minha zona de conforto - a minha infância; O retornar a mim mesma, àquela essência pequenina que nasceu comigo, mas que se foi moldando. Talvez devesse ser mais realista... talvez devesse querer saber mais do estado do mundo... mas a verdade é que o que me resta da infância é um pouco de inocência e não quero fazer nada contra ela.
Devaneios...
Apetece-me estar enroladinha qual bichinho da conta no seu canto.



Senhor...

Hoje só Te quero dizer isto:

Senhor, ensina-me todos os dias a tocar um bocadinho mais da Tua liberdade.
Ensina-me a olhar os outros com os Teus olhos.
Quero a cada dia que nasce, ser capaz de me entregar ao Teu serviço na simplicidade do Teu Amor.
Não preciso de coisas grandes, só preciso de entender-Te nas pequenas.
Mostra-me como saber esperar.
Ensina-me a medir as palavras.
Toca-me quando devo permanecer no silêncio.
Que a cada dia, seja capaz de confiar mais em Ti e despojar-me de tudo o que está a mais no coração.
Que eu saiba amar como Tu amas. Que eu saiba sempre ser-Te fiel.

Só tu sabes

"Só um gesto abre um sulco no frio.
Rasga o fundo, toca no abismo e no vazio"

Como é bom receber um beijinho inesperado seguido de um: obrigada! Sem a tua ajuda teria sido tão mais difícil!;

É a magia dos dias...(mesmo aqueles de chuva).

Deus na Fábrica



Os dias são surpresas.
Todos.
Só podemos ver quando temos o coração aberto, quando dizemos sim, quando arriscamos.
Tenho percebido de tantas maneiras como tudo se encaixa quando vivemos na confiança. Esta não é a visão inocente da vida -é, a meu ver, a coerente; "Não sei para onde vou, mas sei que o caminho será por aqui".
Hoje, permiti-me fazer uma coisa diferente (como devia permitir todos os dias). Por aqui, há um lugar chamado Lx Factory que já foi uma fábrica e que mantém o mesmo conceito, mas é utilizado como espaço de co-work. Porque não um "Deus na Fábrica"? O CUPAV resolveu levar a Eucaristia para além das paredes de uma Igreja e celebrar ali numa simplicidade (que me é) quente.
Porque não ir ouvir falar de sonhos, do vento, das sementes e do futuro? Porque não ouvir falar do Amor? Porque não re-parar aquilo em que sou pequena? Porque não rezar mais? Porquê duvidar? De repente é um turbilhão de perguntas "porque não?" e um outro turbilhão de afirmações "já agora"... e no meio da confusão, vai surgindo um sentido. É tão bom sentir aquele Amor incondicional do "Eu estou contigo venha o que vier. Eu sento-me contigo, vamos falar do que te preocupa. Não te abandono em momento algum, mesmo que não Me consigas sentir. Quero-te muito!"
Há perguntas que nos despenteiam um bocadinho por dentro. Sei que aos poucos vamos chegando às respostas. Cultivamos a paciência e aprendemos a arte do esperar. Acredito que as coisas mais bem construídas, são aquelas bem projectadas.
Sei que o que vale a pena nos torna diferentes. Sei que mudo quando sou capaz de sair do meu canto, do meu quente e lançar-me para o que é novo. Quando existem conversas que nos fazem crescer.
Por vezes tudo está à distância de um "sim".

Depois...é o sentir que Deus me segreda baixinho: sonha, que Eu sonho contigo!

Ultimos tempos

Há momentos tão preenchidos que nos levam a voar.
E há recordações e cheiros, que nos fazem simplesmente sentir bem, como se vivessemos num sonho, perdidos no tempo.
Há a prova da confiança, a dúvida e a certeza (e de repente a incerteza). Uma certa confusão alegre e leve. O limbo entre o arriscar, o ficar e o conter.
Depois há as mil coisas, as mil vidas, os mil trabalhos. Também há a onda quente que nos mistura por dentro. Os pequenos pés que saltitam e correm.
Há o chegar e o ficar.
Falar e calar.
O ler o olhar.
O ver mais fundo.
O re-parar.
E tem sido assim...

Estes dias

As saudades são memórias corrosivas.
São muito portuguesas, mas atrevo-me a dizer que são ainda mais conimbricenses.
A chuva tem um efeito qualquer, que desperta em mim toda a nostalgia de alguém que acha que o tempo, a vida passam a correr.
Hoje a nostalgia sentou-se a meu lado e deixou-se estar até me fazer abrir as dezenas de fotografias que guardo. Passeei por nomes e caras de que sinto falta. Pessoas que o quente do abraço se apagou com a distância. Para onde foram esses dias?
Senti-me pequena e frágil, com toda a sede de quem quer voltar e não pode.
Com toda a sede de alguém que percebeu que o seu lugar mudou.



Queria aninhar-me na minha mãe.
"Há árvores que secam tudo a sua volta.
Outras colonizam todo o espaço.
Mas há outras, habitualmente de crescimento mais lento, que propiciam a presença de tantas outras plantas como se se alegrassem na maior diversidade.
Imagina-te árvore...que género és?
Generosa? Fecunda?

Sê atento! Tu não vives só! Repara que as tuas palavras podem confundir a quem te ouve. Os teus gestos podem magoar. Pode acontecer que quem te rodeia seja mais frágil do que tu, menos seguro. Por isso, sê atento para ser justo"

...



"Porque um dia lhe perguntei, que queria Ele de mim."

Amizade/Amor


Ontem, estive no CUPAV (Centro Universitário Padre António Vieira). É o centro dos Jesuítas em Lisboa. Tenho a sorte de poder ouvir muitas vezes, uma das pessoas que mais sentido faz para mim - o Padre Nuno Tovar de Lemos - que escreveu um dos meus livros preferidos O Príncipe e a Lavadeira;
Fui ao Encontro Mensal, cujo o tema era "Amizade/Amor".
Como é de esperar, falámos de ligações/afectividade - "Como é que Deus permite que o nosso coração não seja correspondido, quando gostamos de alguém?"; Falámos também, das três forças essenciais que nos aproximam uns dos outros: 1. Eros (o impulso, a atracção), 2. Filia (a amizade, a sintonia) e 3. Agapé (o amor gratuito).
Tocámos também nas dimensões do Amor, da Paixão e da Dependência afectiva e de como são (e devem) ser diferentes umas das outras. De como a Paixão passa e o Amor (se bem construído) pode durar uma vida. Fiquei a perceber porque é a Verdade não está nos sentimentos. Precisamos de algo racional que em momentos de deserto, nos faça acreditar que aquilo de que estamos a duvidar numa determinada altura, é de facto real. Por exemplo...nem sempre sentimos Deus. Se nos baseássemos só naquilo que somos capazes de sentir, haveria alturas em que Deus, para nós, não existia, porque nem sempre O vemos. A Verdade tem que ir além das emoções. Assim como a Fé é uma decisão, no sentido em que eu decido pautar a minha vida pelos seus valores, assim é o Amor - uma decisão; Depois da Paixão o que resta é escolher desenhar o nosso futuro com os valores que fomos construindo ao lado da outra pessoa.
Há pessoas certas? "A pessoa certa é aquela em que tu decidires acertar". Mas como é que sabemos? Primeiro, acho, tem que haver admiração e segundo (não menos importante) deve existir um projecto de vida em comum. A nossa liberdade foi feita para nos comprometermos. Qual o sentido da nossa vida sem o compromisso?

Deixo por fim, cinco dicas para crescer afectivamente (e será certamente isto que um dia ensinarei aos meus filhos):
- espaço para relações diferentes (relações de amizade, haver espaço para a família);
- saber estar sozinho (quando não sabemos estar sozinhos, corremos o risco de cair na dependência afectiva);
- ser eu mesmo em todas as relações (eu, na minha verdade);
- aprender a ser senhor de mim mesmo (vou por onde decido, tendo em conta a opinião do outro, mas não fazendo só dele o meu caminho);
- capacidade de compromisso;
Pode parecer estranho começar uma história pelo final. Mas todos os finais são também começos. Só não o sabemos no momento..."
Mitch Albom in As cinco pessoas que encontramos no Céu