História sem nome


Às vezes abres a porta do teu coração, mas esqueces-te de limpar os pés à entrada. E esqueces-te que fora do teu coração estava um tempo feio, chuvoso, e cheio de trovoada. Então, entras, tiras a gabardina, desenrolas os cachecol e sentas-te muito cansado. Por fim, num gesto lento e preguiçoso tiras as botas, que traziam agarradas montes de pedrinhas, sujidade e até uma pastilha elástica que tinhas pisado algures... secas-te no teu coração, e dormes um longo sono reparador. Quando finalmente acordas, olhas à tua volta...tens o coração desarrumado. As roupas espalhadas pelo chão, o copo de leite que te aqueceu, a janela aberta por onde entra o vento frio... Mas pior, tens o teu coração sujo daquelas pedrinhas que vinham agarradas às tuas botas, e tens o coração molhado da água da chuva. O medo e a insegurança, estão colados à pastilha que também trouxeste lá de fora... E pensas "Era melhor eu limpar o meu coração", só que...tens que feito este percurso todos os dias. Os móveis têm muito pó, o chão a cada dia que passa está mais encharcado. Tudo isto, te torna o coração pesado...tão pesado que tens dificuldade em levantar-te e começar a arrumá-lo e limpá-lo, e a pô-lo bonito outra vez. Sem forças, começas a chorar, e choras choras, e molhas ainda mais o teu coração que está tão cheio de coisas que não valem a pena. De repente, sentes uma força que te vem não sabes de onde, mas que te levanta e te aquece a alma, e começas...(devagarinho, muito devagarinho)...a arrumar e a limpar tudo.

Quando finalmente acabas, olhas para trás e pensas "Nunca mais quero ter o coração pesado"...então agora, cabe-te a ti ir tirando o que te suja o coração.

Tu escolhes...Tu podes escolher...Só tu tens o dever de escolher!´

Dá sempre mais trabalho arrumar o que temos cá dentro, mas dói sempre mais quando o que temos cá dentro se torna pesado...

Rita

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