Coração apertadinho

As saudades já são muitas.
Trata-se de um choque térmico nas emoções. Voltar é sempre difícil!
Deixamos o mundo como eramos e voltamos como somos.
Quando entramos nestas experiências, não podemos voltar iguais!
Dizer que foi espectacular é ficar completamente aquém. Por isso...guardo no coração os dias que vivi em com mais um milhão e oitocentos mil jovens.
E a jornada...continua dentro de mim.
É este o grande desafio.

Jornadas Mundiais da Juventude






Não sei se já é o momento certo para falar.
Não sei sequer se já cheguei.
Sei apenas, que tenho muito dentro do coração e que o quero partilhar, para que seja sempre possível recordar o que vivi, nos últimos 10 dias.
Fui uma das pessoas que teve o privilégio de viver as Jornadas Mundiais da Juventude de Madrid. Muitos mais gostariam de ter estado, mas por diversas razões não conseguiram. Eu fui. Voltei. Mas ainda não cheguei. O coração fica sempre preso a estas grandes experiências em que tocamos Deus.
Tudo começou no dia 11 de Agosto, com a Missa de Envio celebrada pelo novo Bispo de Coimbra na Sé Nova. Creio que pela primeira vez em muito tempo, me senti enviada e responsabilizada pela pessoa diferente que iria voltar. A música tanta vez cantada por mim fez pela primeira vez sentido: "Não fiques na praia com o barco amarrado e medo do mar. Tudo aqui é miragem, mas na outra margem há Alguém a esperar". Parti daqui, com muitas dúvidas e incertezas quanto ao futuro e sinceramente, não estava à espera de respostas. Fui só aberta a receber o Cristo que me ama e que muitas vezes não entra na minha vida porque eu não deixo.
Partiram seis autocarros da diocese de Coimbra para Talavera - Toledo, para viver a pré-jornada. Não fazia ideia do que esperar, mas honestamente, não queria esperar nada. Queria só deixar-me surpreender, tal como o Pe. Dinis nos pediu na missa de envio. Todos os dias me deixei guiar pelo que Deus tinha à minha espera e aos poucos fui percebendo de que maneira me foi tocando.
Em Talavera contava ficar numa família de acolhimento, o que não aconteceu. Mas isso, só me mostrou que podia sentir-me plenamente acolhida junto das Irmãs Agostinhas, que naqueles cinco dias de pré-jornada, foram autênticas mães, sempre dispostas a dar-nos tudo para que nos sentíssemos em casa. Todas as noites tínhamos garrafões de água fresquinha à porta dos quartos (e se estava calor!).
Na noite em que chegámos a Talavera rezamos todos juntos no pátio do colégio. Soube nesse momento a sorte que tive em ficar ali. Na verdade, quem foi para famílias não teve este momento de oração, que apesar do cansaço, foi tão intenso. Rezamos sobre uma das minhas passagens preferidas, em que Jesus diz: "Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja". Gosto muito porque, Jesus confiou na Fé forte de Pedro e incumbiu-lhe uma missão, a missão de O levar aos outros. Portanto, a Igreja é muito mais do que um conjunto de pessoas, é uma missão dada pelo próprio Cristo!
Nestes cinco dias foi-nos dada a oportunidade de conhecer Toledo e Talavera. Nesse tempo, senti Deus nas vozes fantásticas e no sorriso das Irmãs Agostinhas, assim como nas pessoas que fui conhecendo. A histórias de cada um...conhecer alguém é algo muito complexo. É a maior caça ao tesouro de sempre.
Partimos para Toledo no ultimo dia de pré-jornada, onde nos reunimos com todos os jovens que tiveram esta experiência nos arredores da cidade. Onde quer que fossemos faziamos sempre muita festa e no nosso rosto estava estampada a alegria de Cristo. Ao olharmos para as pessoas de outras nacionalidades tinhamos esta mesma alegria em comum. Trocamos pequenos objectos como lembrança do que estavamos a viver. Nessa noite, houve algo que me tocou em especial. Depois da missa celebrada ao ar livre, estava sentada ao pé de uma fonte quando passaram duas raparigas dos Estados Unidos. Uma delas tinha uma pequena guitarra, a qual lhe pedi emprestada para tocar uma música. Não sabia qual havia de ser, mas gostava que todos a pudessemos cantar. De repente lembrei-me da "One of us" da Joan Osborn e comecei a tocar. Fez realmente muito sentido! Eu partilho a mesma fé que uma pessoa também sente do outro lado do Oceano. É maravilhoso! Só Deus pode unir alguém desta forma.
Se as Jornadas tivessem consistido na Pré-jornada eu já me sentia completa e preenchida. Mas Deus, tem sempre algo mais para nós. Chegamos a Madrid no dia 16! Muitas pessoas no metro, muitas pessoas na rua. Em comum continuávamos a ter a alegria.
Normalmente, de manhã tínhamos as catequeses e Eucaristia, que foram celebradas pelos bispos portugueses e de tarde tinhamos tempo livre. Decidimos conhecer Madrid por dentro, por isso andámos muito a pé, visitámos Igrejas e praças. À noite, num desses dias, uma amiga minha perguntou se queriamos rezar juntamente com o grupo dela e assim fizemos. Foi muito bom dar graças pelo dia bom que vivemos.
As condições no colégio de Madrid não eram as melhores. Os banhos eram no pátio, com água fria e à mangueira, mas todas estas situações me ajudaram a descentrar-me de mim e a entregar-me ao essencial. O que tinhamos chegava perfeitamente para nos sentirmos bem. Temos muito mais no nosso dia-a-dia do que realmente precisamos.
No dia em que Portugal se juntou para o encontro do País, marcou-me muito um casal de Aveiro que faz parte de um grupo chamado "SIM". "SIM" de é possível viver edificados e enraizados em Cristo, nos dias de hoje. E também umas frases em especial, proferidas pelo D. José Policarpo: Descobri há uns tempos que dizer "eu acredito em Ti", é a mesma coisa que dizer "Eu amo-Te muito" e ainda: "Quando pensares na tua relação com Jesus não tentes perceber tudo, pensa que primeiro que uma relação de amor com Ele é possível, porque Ele ama-nos muito: Não fostes vós que me escolhestes, fui eu que vos escolhi"; Voltou-me à memória o tema de um encontro que fiz há uns tempos "A força das convicções" e pensei que realmente passa tudo por aí, pela nossa vontade em querer ser coerentes.
Nessa mesma tarde, realizei um sonho: Ver os Rosa de Saron!; apesar do calor e da sede que sentia, foi um concerto muito tocante!
Durante as Jornadas, quis-me abstrair do facto de não saber o que seria de mim para o ano, visto que não sabia se entrava no mestrado ou não. No penúltimo dia, andava eu no Museu Rainha Sofia a ver uma exposição temporária, quando recebo uma chamada da faculdade a que me candidatei, a dizer que tinha sido admitida e que não precisava sequer de fazer entrevista! Aí percebi, que não precisamos de procurar respostas porque a seu tempo Deus, põe-nas no nosso caminho. De um momento para o outro, o ano que aí vem tomou forma e sentido. Confiar não é fácil, mas vale muito a pena!
Tive a sorte de ver o Papa a passar à minha frente, apesar da velocidade a que ía o Papamovel, consegui vê-lo a poucos metros de mim!
Pelas ruas de Madrid ouviram-se gritos de protesto contra a Igreja, contra os cortes no orçamento e represálias sobre as despesas que as Jornadas trariam a Espanha. Mas em cada coração dos peregrinos gritava a certeza de que nós somos a juventude do Papa e que levámos muita alegria a esta cidade, para não falar na parte económica que tudo isto envolveu! Todo o marketing aos restaurantes etc.
Para mim, o dia mais vivido e difícil na Jornada foi o penúltimo, em que fomos para um descampado onde estaríamos em vigília com o Papa nessa noite e no dia seguinte seria celebrada a missa de encerramento. Madrid é muito quente, temperaturas de 40 e tal graus. Nesse descampado não existia uma única sombra e nós chegamos em plena hora de almoço. A água potável faltou a certa altura. Estávamos rodeados de um milhão e oitocentas mil pessoas. Ninguém imagina o que é viver um dia nestas condições, rodeado de tanta gente. Conseguimos improvisar uma sombra que nos safou do sol escaldante. Havia muitas queixas, desespero e pessoas a sentir-se mal. Por várias vezes, senti-me num campo de refugiados. Tudo o que queria era chuva e que a noite chegasse muito rápido para o sol desaparecer. No entanto, a certa altura houve um clique na minha cabeça e consegui descentrar-me do mau e pôr os olhos no bom.
É certo que eramos muitos, é certo que não havia água, é certo que o calor era insuportável e que não iriamos tomar banho no final do dia, mas havia muito mais coisas boas que más. Tinhamos uma sombra, porque uma rapariga tinha levado um pano que nos serviu de toldo, tinhamos água no nosso grupo que estavamos dispostos a partilhar, tinhamos alimentos suficientes. Vistas as coisas, o caminho para a Santidade não é feito só de coisas boas e bonitas. Exige sacrifícios e coisas duras! Eu estava ali pelo meu Salvador! Não podia sequer ter a ousadia de comparar o meu sofrimento, ao sofrimento de Cristo quando deu a Sua vida por mim, portanto, limitei-me a aceitar o bom que aquele dia me trouxe! Sei que foi ali que a minha Fé se fortaleceu! "Deixem-se surpreender".
Nessa mesma noite, durante a vigília, choveu e trovejou! Iamos dormir ali, ao relento mas não havia problema! Tinhamos um grande Deus do nosso lado! No momento de fazer silêncio, aquele 1 800 000 pessoas souberam calar-se e estar a sós com Jesus!
Tenho a dizer que, a viagem para Portugal teve um momento muito especial. A certa altura começamos num grupo pequenino a ler os contos de um livro do Miguel Sousa Tavares que se chama "Não te deixarei morrer David Crocket". Senti carinho neste momento, primeiro porque os contos são muito bonitos e poéticos e depois, porque no fundo é isto, a partilha entre todos!
O que acho maravilhoso é que cada pessoa viveu tudo isto de uma forma diferente mas tão coincidente.
Arrepia-me a ideia de Alguém que não vemos arrastar tantas pessoas só porque ensinou que o Amor é a base de tudo!
Deixo algumas frases que me tocaram em especial:
"Amar é morrer. Mas toda a morte tem a ressurreição"
"Tu és o meu filho muito amado"
"A tua Vida sem Deus fica a meias"
"Se abrires o teu coração a Cristo tudo vai mudar"
"Conhecer-se a si próprio não é senão uma forma de chegar a saber o que Deus pensa de nós" Sto Agostinho

Rezar juntos


"Agora não venhas ao meu quarto...vou rezar. Quer dizer, se quiseres vir rezar vem, mas é só para dizer que não quero que me interrompas enquanto lá estiver."
Instantes depois, a porta do meu quarto abriu-se e entrou o meu irmão. Sentou-se no chão em frente a mim e ficámos os dois quietos a ouvir o Passo-a-rezar do dia de hoje. Durante os 10 minutos de oração em formato áudio, passaram-me muitas coisas pela cabeça como: "Oh, a música que hoje puseram não é do agrado do meu irmão" ou "espero que o evangelho seja fácil de perceber para ele não apanhar seca" ou ainda "esta ainda não deve ser bem a forma dele rezar"; Depois destes momentos de insegurança pensei: Rita, ele está aqui porque quis vir...Deus deve ter algo a dizer-lhe, por isso, não te preocupes, relaxa, concentra-te na oração e vê o que ela te traz a ti.
Quando a oração acabou, resolvi falar com o nosso Amigo como de costume. A chorar, disse-lhe muita coisa que sentia e o meu irmão ouviu atento e de seguida também partilhou, na simplicidade, aquilo que queria agradecer e pedir.
Demos um abraço e falámos sobre o momento que tinhamos acabado de viver. Coisas que ele não percebeu muito bem, dúvidas.
Partilhei com ele a minha forma de viver e a minha vontade de fazer um caminho para a Santidade sendo do mundo, mas não mundana.
São momentos assim que nos unem às pessoas. Quem tem Fé percebe a importância de rezar juntos. Quem não tem eu explico: É como viajar com alguém. Não tem piada ir sozinho, porque assim não temos alguém com quem partilhar a experiência. Ao rezarmos, estamos sempre a partilhá-la com Deus, é certo, mas todos sabemos que Deus não nos responde como alguém responde; Rezar em conjunto aproxima as pessoas, cria laços.
É muito bom ter um irmão. É muito bom ele fazer parte assim da minha vida e deixar-me fazer parte da dele!

Caminhar....

Acredito que somos imesuravelmente mais felizes a fazer o que gostamos e o que nos realiza.
Tenho a sorte de, aos poucos, ir percebendo para onde vai o meu caminho.
Têm-se aberto várias portas nos últimos tempos e sinto-me muito grata por isso.
Sei que a alegria vem do que nos torna capazes de olhar e perceber o lado bom das coisas, mesmo naqueles dias farruscos em que o sol se escondeu de si mesmo.
O facto de a felicidade que nos habita nem sempre animar os nossos dias, não é sinónimo de que não a tenhamos construído. Simplesmente, fazem parte os dias de deserto, as frustrações e depois a aceitação. A aceitação não é o ficar parado à espera que a vida nos traga uma solução. Vejo o aceitar, como a única alternativa ao que já não se pode mais fazer.
Neste momento, não sei onde estarei no próximo ano lectivo. Sei que tenho que confiar em Deus e na Sua luz condutora e construtora. Se confiar, sei que fico bem aconchegada no colo do Pai que me ama.
Para mim a existência de Deus é tão óbvia que chega a ser quente e palpável na maravilha das pequenas coisas. Gosto de olhar para trás e perceber que os meus rumos têm sido traçados pela mão Dele. Desde que me lembro que Lhe peço: Vai-me mostrando o meu caminho, para que eu saiba sempre o que escolher;
Como já disse, o bom das frustrações é mesmo lançarmo-nos e desafiarmo-nos a procurar caminhos. Muitas vezes, depois de postar aqui alguma coisa penso: outra vez a falar de Deus, Rita; e imediatamente percebo que, se eu quero pôr Deus em tudo o que faço, Deus tem que estar nos meus dias, nos meus textos, nas minhas ilustrações e em cada serviço que eu fizer pelos outros. Mesmo que nem sempre eu consiga ver.
Hoje só quero partilhar que nem sempre tenho dias bons, nem sempre sinto o calor no peito, nem sempre confio como devia, mas agradeço por conseguir construir o caminho que se faz andando e que amanhã ou depois, o dia será melhor, menos cansativo e com mais sensação de dever cumprido.

Um pouco mais de ti


Gosto quando dás um pouco mais de ti...gosto quando posso dar um pouco mais de mim!
Gosto de começar por baixo, pelo que passa do superficial ao profundo.